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Livro: 10% Humano - Como os micro-organismos são a chave para a saúde do corpo e da mente - Alanna Collen

Minha Resenha
O livro, de forma investigativa, apresenta fatos científicos sobre as bactérias e a microbiota humana. É prazeroso e instigante durante toda a leitura (ao todo, no livro, tiveram apenas duas páginas em que não me senti motivado ou instigado a ler mais) :).
Os estudos sobre microbiota e alterações bacteriológicas são tratados em diferentes visões. 
Logo no início, o livro desmascara o senso comum de que quanto mais se come, mas se engorda, e de que por isso é necessário fazer mais exercícios e comer menos para reduzir o peso.
A relação do uso de antibióticos, com uma consequente mudança da microbiota, e o aparecimento do autismo também é avaliada.
Em outro tópico, uma extensa análise sobre o uso de antibióticos e o ganho de peso nos faz crer que existe uma ligação muito forte de causa e efeito.
Infelizmente ainda não existem conclusões para as causas dos problemas de saúde abordados no livro. No entanto, o livro me fez conhecer em maior profundidade certas pistas e hipóteses que estão sendo estudadas, bem como aumentar a fé de que  teremos grandes e boas resoluções sobre a nossa microbiota em breve. 
Alguns Destaques Interessantes

O Problema do Peso Não é Genético
"Em 2010, um amplo estudo conduzido por uma equipe de centenas de cientistas vasculhou os genes de 250 mil pessoas na esperança de achar quais estavam associados ao peso. Para seu espanto, descobriram apenas 32 em nosso genoma de quase 20 mil genes que parecem desempenhar algum papel nesse processo.
A diferença média de peso entre as pessoas com uma leve tendência genética à obesidade e aquelas com uma tendência mais alta foi de apenas 8 quilos. Para aqueles que gostariam de culpar os pais, isso equivale a um risco extra de 1% a 10% de ter excesso de peso para os que têm a pior combinação dessas variantes de genes.

Independentemente dos genes envolvidos, a genética jamais poderia ser a explicação completa da epidemia de obesidade, porque, sessenta anos atrás, quase todo mundo era magro, apesar de ter, na prática, as mesmas variantes genéticas da população humana atual. É provável que o que mais importa seja o impacto de um ambiente mutável - nossa dieta e estilo de vida, por exemplo no funcionamento dos nossos genes." P. 68-69
  


Quem tem metabolismo rápido e lento?
"Nossa outra explicação favorita é a do “metabolismo lento”. “Não preciso controlar o que como porque tenho um metabolismo acelerado” deve ser um dos comentários mais irritantes que uma pessoa magra pode fazer. Só que isso não tem qualquer base científica. Um metabolismo lento ou, em termos mais corretos, uma taxa metabólica basal baixa significa que a pessoa gasta relativamente pouca energia quando não está fazendo nada: não está se mexendo nem assistindo à TV, nem fazendo contas de cabeça. As taxas metabólicas variam de pessoa para pessoa, mas o metabolismo das que são obesas é mais rápido e não mais devagar do que as que são magras. É simples: é necessário gastar mais energia para urn corpo grande funcionar do que para um pequeno." P. 69

Quanto mais se come, mais se engorda... Isso?
"Em teoria, é possível calcular exatamente quanto peso uma pessoa deve ganhar de acordo com o número de calorias extras em sua dieta. Para cada 3.500 calorias que consumimos além de nossas necessidades de energia, devemos ganhar 450 g de gordura. Poderíamos comer esse excesso num só dia ou no decorrer de um ano, mas o resultado deve ser o mesmo: engordarmos 450 g naquele dia ou no decorrer daquele ano.

Na prática, porém, a coisa não funciona assim. Mesmo em alguns dos primeiros estudos sobre o aumento de peso, os números não batiam. Em um experimento, pesquisadores alimentaram doze pares de homens gêmeos idênticos com mil calorias em excesso por dia, seis dias por semana, durante cem dias. No total, cada homem comeu 84 mil calorias além de suas necessidades físicas. De acordo com a teoria, cada voluntário deveria ter engordado exatamente 10,9 kg. Na realidade, a coisa não foi tão simples assim. Para começo de conversa, até o ganho médio de peso foi inferior ao que a matemática diz que deveria ter sido: 8,2 kg. Os ganhos de peso individuais revelam quão inadequado é aplicar uma mera regra matemática à questão do peso. O homem que engordou menos ganhou apenas 4,1 quilos - pouco mais de um terço do valor previsto. E o gêmeo que engordou mais ganhou 13,2 kg - ainda mais que o esperado. Esses valores não podem entrar na média de "mais ou menos 10,9 kg", pois estão tão longe do previsto que usá-los é inútil." P. 85-86
  

Sobre a Cirugia Bariátrica
"Trata-se de uma intervenção que supostamente funcionaria eliminando a necessidade da força de vontade, ao impedir de uma vez por todas que as pessoas comam mais que uma porção infantil a cada refeição. Mas parece que esse resultado envolve outros fatores. Uma semana após a cirurgia, a flora intestinal muda, deixando de se parecer com a de uma pessoa obesa e passando a se parecer com a de uma pessoa magra. A relação entre Firmicutes e Bacteroidetes se inverte, e a população da boa e velha bactéria Akkermansia aumenta cerca de 10 mil vezes. Cirurgias de redução do estômago em camundongos mostram as mesmas mudanças na composição da flora intestinal. Falsas cirurgias, porém, em que incisões são feitas mas o estômago volta a ser costurado em seu tamanho original, não têm o mesmo efeito. Até mesmo transferir a microbiota de um camundongo que tenha passado por uma redução de estômago para um camundongo livre de germes causa neste último uma súbita perda de peso. Parece que o redirecionamento de nutrientes, enzimas e hormônios é que promove essa mudança, levando então à perda de peso. Não são as porções minúsculas a que os pacientes estão limitados que os ajudam a perder peso, mas a alteração na regulação da energia graças à nova microbiota." P. 89

Inflamação e a Conexão entre as Doenças
"O grande paradoxo da saúde no século XXI, agora que o domínio das doenças infecciosas chegou ao fim, é que nossa saúde pode depender de termos mais micróbios, não menos. Está na hora de passarmos da hipótese higiênica para a hipótese dos Velhos Amigos: O que está em falta não são as infecções, mas os micro-organismos benéficos que treinam e acalmam nosso sistema imunológico em desenvolvimento.

No capítulo 1, perguntei qual seria a conexão entre as doenças do século XXI, aparentemente tão díspares - obesidade, alergias, doenças autoimunes e mentais. A resposta é o que todas elas têm em comum: a inflamação. Nosso sistema imunológico, longe de ter entrado de férias agora que as doenças infecciosas foram vencidas, está mais ativo do que nunca. Agora ela enfrenta uma guerra incessante, não porque existam mais inimigos, mas porque, por um lado, baixamos a guarda e abrimos as fronteiras para os micro-organismos que deveriam ser nossos aliados, e por outro, perdemos a força pacificadora que esses micróbios treinam.
Portanto, se você quer mesmo fortalecer seu sistema imunológico, desista das frutinhas caras e dos sucos especiais. Em vez disso, ponha sua microbiota em primeiro lugar, e o resto virá naturalmente." P. 149-150
  


Sobre a comida crua
"É bem verdade que ingerir comida crua ajuda a emagrecer simplesmente porque haverá menos calorias disponíveis para serem absorvidas. Mas, a longo prazo, o efeito de uma alimentação desse tipo é tão extremo que conservar um peso saudável parece impossível. “Se você monitora adeptos da comida crua por um longo período de tempo”, diz Carmody, “constata que não conseguem manter a massa corporal. Eles comem quantidades absurdas de comida, mesmo em termos de calorias, mas continuam perdendo peso. Os crudívoros rigorosos podem experimentar déficits energéticos tão graves que mulheres em idade reprodutiva chegam a parar de ovular.” A partir de uma perspectiva evolutiva, essa com certeza não é uma boa estratégia. As evidências indicam que cozinhar não é uma mera invenção cultural para a comida ficar mais gostosa, mas uma inovação a que nossa espécie se adaptou fisiologicamente e que agora somos obrigados a continuar. Agora Camody pretende desvendar o impacto do ato de cozinhar sobre nossa flora intestinal." P. 200



Você sabia que a sua microbiota está na sua casa?
"Um estudo descobriu que era fácil identificar qual família pertencia a qual casa pela simples comparação dos micróbios existentes nos pés, nas mãos e no nariz delas com os encontrados no chão, nas superfícies e nas maçanetas.

Durante esse estudo, três dessas famílias mudaram de casa. Em poucos dias, suas novas moradias já haviam sido colonizadas por suas bactérias, substituindo as dos moradores anteriores. De fato, a contribuição dos membros da família à microbiota da casa foi tão dinâmica que, se ficassem ainda que uns poucos dias fora, seu rastro microbiano já começava a esfriar. O declínio constante na pegada microbiana de uma pessoa poderia ser usado para criar uma linha do tempo confiável o suficiente para uso em investigações forenses. A tecnologia do DNA mudou completamente a investigação na cena do crime, mas o seu microbioma é ainda mais específico - imagina quais segredos ele poderia revelar.

Membros da mesma familia tendem a ter microbiotas bem semelhantes, enquanto pais costumam compartilhar os mesmos grupos de bactérias com os filhos. Optar por morar com amigos, ou mesmo com estranhos, porém, traz como resultado o compartilhamento de mais que apenas o leite. Um lar incluído no estudo não era habitado por pessoas da mesma família. O convívio no mesmo ambiente foi suficiente para ocasionar uma mescla das microbiotas. Todos os moradores tinham muitos micróbios em comum, especialmente nas mãos. Dois deles mantinham um relacionamento e, por isso, compartilhavam ainda mais micro-organismos entre si do que com o terceiro morador." P. 226
  


Capítulo de Conclusão
"Em 1900, as três principais causas de morte no mundo desenvolvido, ceifando a vida de um terço das pessoas, foram pneumonia, tuberculose e diarreia infecciosa. A expectativa média de vida era de aproximadamente 47 anos. Em 2005, as três principais causas de morte, tirando a vida de metade das pessoas, foram doença cardíaca, câncer e derrame. A expectativa média de vida estava em torno de 78 anos. Gostamos de pensar que essas são doenças típicas da velhice, uma consequência inevitável de viver mais. Mas as pessoas que moram em partes não ocidentalizadas do mundo, que sobreviveram às doenças infecciosas, a acidentes e à violência e chegaram à idade avançada, não tendem a morrer devido a essas três grandes categorias de doenças. O que estamos percebendo agora é que o coração não enrijece, as células não se multiplicam descontroladamente nem os vasos sanguíneos estouram só porque estão velhos. A visão emergente entre os cientistas médicos é que não se trata de doenças próprias da velhice, mas de uma consequência da inflamação crônica. Se existe um efeito da idade avançada, é que os insultos modernos que lançamos contra o nosso corpo tiveram o tempo necessário para gerar inflamação até o ponto da catástrofe. Se este é o caso, é possível termos uma velhice maravilhosa, sem décadas de inflamação acumulada." P. 261 (grifo em negrito meu)

Conclusões: Recomendações Finais
"Então o que devemos fazer? O relacionamento com nossos micróbios está sendo ameaçado por três fatores: nosso consumo de antibióticos, a falta de fibras em nossa alimentação e as mudanças na maneira como semeamos e cultivamos a microbiota de nossos bebês." P. 261

"Existem alguns passos para ajudá-lo a decidir se precisa de antibióticos. Primeiro, considere esperar um ou dois dias para ver se seus sintomas melhoram. Observe que eu disse considere - use o bom senso. Segundo, se seu médico oferecer antibióticos, sugiro que faça estas perguntas a ele:

1. Com que grau de certeza você pode afirmar que esta infecção é bacteriana, não viral?
2. Os antibióticos vão me deixar muito melhor ou farão com que minha recuperação seja mais rápida?
3. Quais os riscos de não tomar o antibiótico e deixar meu sistema imunológico combater a infecção por conta própria?

Com frequência não há uma resposta clara sobre qual alternativa deveríamos escolher quando se trata de tomar antibióticos, mas tome uma decisão consciente, sabendo que os antibióticos tanto podem fazer mal quanto ajudar. Avaliar se os benefícios superam os custos é a função de um paciente informado que vai se consultar com um médico igualmente informado." P. 268

"Você não pode escolher seus genes, mas com certeza pode escolher seus micróbios" p. 270 (grifo negrito meu)
 

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