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Notas de Livros: Desafio aos Deuses - Peter L. Bernstein - 2ed

NOTA: 5/5 

Resenha: 

Um livro fascinante sobre a história do risco (ao final, risco financeiro).
Um dos melhores livros que já li na vida. Impossível ler e pensar igual antes. Recomendo.

 
 
 
Cita o prêmio Nobel Kenneth Arrow: "Nosso conhecimento do funcionamento das coisas, na sociedade ou na natureza, vem a reboque de nuvens de imprecisão. Grandes males têm seguido a uma crença na certeza." P. 7


Até 1200: Os Primórdios
Capítulo 2: Fácil como I, II, III
Comenta sobre o Liber abaci:
"O resultado foi um livro extraordinário por qualquer padrão. O Liber abaci conscientizou as pessoas de todo um novo mundo em que números substituíam os sistemas hebraico, grego e romano, que usavam letras para contar e calcular. O livro atraiu rapidamente adeptos entre os matemáticos italianos e do resto da Europa.

O Liber abaci é muito mais do que uma cartilha para se aprender a ler e escrever os novos numerais. Fibonacci começa com instruções de como determinar, com base no número de dígitos de um numeral, se é uma unidade, um múltiplo de dez, um múltiplo de cem e assim por diante. Os capítulos posteriores exibem um nível de sofisticação maior. Ali encontramos cálculos com números inteiros e frações, regras de proporção, extrações de raízes quadradas e de ordens maiores e até soluções de equações de primeiro e segundo graus." P. 24

Falando sobre as tentativas de calcular e entender risco e probabilidade até 1200:
"Por que, dadas suas idéias matemáticas avançadas, os árabes não prosseguiram até a teoria das probabilidades e a gestão do risco? Acredito que a resposta esteja ligada à sua visão da vida. Quem determina nosso futuro: o destino, os deuses ou nós mesmos? A idéia da gestão do risco emerge apenas quando os indivíduos acreditam ser, até certo ponto, agentes livres. A semelhança dos gregos e dos primeiros cristãos, os muçulmanos fatalistas ainda não estavam preparados para dar esse salto." P. 34 (Negrito por Daniel Brandt)


1200 - 1700: Mil Fatos Notáveis
Capítulo 3: O Jogador do Renascimento

Cita Girolamo Cardano: 
"Cardano deve ter sido um homem ocupado. Ele escreveu 131 obras publicadas, alega ter queimado outras 170 antes da publicação e ao morrer deixou 111 manuscritos. Suas obras abarcaram uma enorme variedade de assuntos, entre os quais matemática, astronomia, física, urina, dentes, a Vida da Virgem Maria, o horóscopo de Jesus Cristo, moralidade, imortalidade, Nero, música e sonhos. Seu best-seller foi De subtilitate rerum (Sobre a sutileza das coisas), uma coletânea de artigos que chegou à sexta edição; ela tratava de ciência e filosofia, bem como de superstição e histórias estranhas." P. 46 (Negrito por Daniel Brandt)

"O grande livro de matemática de Cardano, Ara magna (A Grande Arte)...
O livro foi publicado apenas cinco anos após o surgimento dos símbolos "+" e "-" em Grounded of artes (Fundamento das artes), de um inglês chamado Robert Record." P. 47

Sobre o sentido ou o significado de probabilidade:
"Para Leibniz, escreve Hacking, “a probabilidade é determinada pela evidência e razão". De fato, a palavra alemã, wahrscheinlich capta bem esse sentido do conceito: sua tradução literal é “com a aparência de verdade”.
A probabilidade sempre teve esse duplo significado, um voltado para o futuro, o outro como interpretação do passado, um preocupado com nossas opiniões, o outro preocupado com o que realmente sabemos. A distinção aparecerá várias vezes neste livro.
No primeiro sentido, probabilidade significa o grau de crença ou a demonstrabilidade de uma opinião a visão não-matemática da probabilidade. Os estudiosos usam o termo epistemológico para exprimir esse significado; epistemológico refere-se aos limites não plenamente analisáveis do conhecimento humano." P. 48 (Negrito por Daniel Brandt)

"quanto do que sabemos podemos aceitar? No contexto de Galileu, probabilidade era quanto do que nos diziam poderíamos aprovar. Na acepção mais moderna de Leibniz, era quanta credibilidade poderíamos atribuir evidências." P. 49

Racionalizando a Probabilidade
"Cardano tinha a sensação de estar ciente de algo importante. Em sua autobiografia, escreveu que Liber de ludo aleae constituía uma de suas maiores realizações, afirmando ter “descoberto a razão de mil fatos espantosos”. Observe as palavras “razão de”. Os fatos no livro sobre a frequência dos resultados eram conhecidos por qualquer jogador; já a teoria que explica tais frequências não era. No livro, Cardano exprime o lamento habitual dos teóricos: “...esses fatos contribuem grandemente para a compreensão, mas quase nada para a prática do jogo".

Ainda sobre Cardano:
"Pela primeira vez, ele definiu a forma agora convencional de expressar a probabilidade como uma fração: o número de resultados favoráveis dividido pelo "circuito" - o número total de resultados possíveis." P. 49

"Sigam a linha de raciocínio de Cardano ao detalhar a probabilidade de cada jogada em um jogo de dados. No seguinte parágrafo do Capítulo 15 do Liber de ludo aleae, “Sobre a jogada de um só dado”, ele enuncia os princípios gerais que ninguém jamais apresentara antes:

Metade do número total de faces representa sempre a igualdade; assim, as chances são as mesmas de que um dado ponto seja obtido em três arremessos, pois o circuito total é completado em seis, ou novamente de que um dentre três pontos especificados seja obtido em um arremesso. Por exemplo, posso obter um, três ou cinco tão facilmente como dois, quatro ou seis. As apostas ali são feitas de acordo com essa igualdade, caso o dado seja honesto. " P. 50

Como Apostar - Probabilidade versus Vantagem
"A vantagem (odds) de um resultado é a razão entre os resultados favoráveis e os resultados desfavoráveis. A vantagem depende, sem dúvida, da probabilidade, mas é ela que importa quando se está fazendo uma aposta.
Se a probabilidade de obter 5 no gamão for de 15 em cada 36 arremessos, a vantagem de um 5 será de 15 para 21. Se a probabilidade de obter 7 no jogo de dados for de uma em cada seis arremessos, a vantagem de um número diferente de 7 será de 5 para 1. Isso significa que você não deve apostar mais de $1 em que a próxima jogada dará 7, caso o adversário aposte $5 em que não dará. A probabilidade de obter cara em um arremesso de moeda são 50/50, ou uma em duas; como a vantagem das caras é equilibrada, nunca aposte mais do que seu adversário nesse jogo. Se a vantagem de um azarão no jóquei for de 20 para 1, a probabilidade teórica da vitória daquele cavalo será de uma em 21, ou 4,8%, e não 5%." P. 52 (Negrito por Daniel Brandt)


Capítulo 4: A Conexão Francesa

"A história dos três franceses começa com um trio incomum que enxergou além das mesas de jogo e deu forma aos fundamentos sistemáticos e teóricos da medição das probabilidades. O primeiro, Blaise Pascal, era um brilhante e jovem dissoluto que, mais tarde, tornou-se um fanático religioso e acabou por rejeitar o uso da razão. O segundo, Pierre de Fermat, era um advogado bem-sucedido para quem a matemática era uma atividade paralela. O terceiro membro do grupo era um nobre, o cavaleiro de Méré, que combinou seu gosto pela matemática com uma irresistível atração pelos jogos de azar; sua fama deve-se simplesmente à formulação da pergunta que impeliu os outros dois ao caminho da descoberta.

Nem o jovem dissoluto, nem o advogado precisaram recorrer à experimentação para confirmar suas hipóteses. Ao contrário de Cardano, eles trabalharam indutivamente na criação, pela primeira vez, de uma teoria das probabilidades. A teoria forneceu uma medida da probabilidade em termos de números exatos, um rompimento fundamental com a tomada de decisões baseada em graus de crença." P. 58 (Negrito por Daniel Brandt)

"Pascal reuniu seus pensamentos sobre a vida e a religião enquanto estava em Port-Royal e publicou-os sob o título de Pensamentos." P. 68

Tomada de Decisões; Deus existe? Apostando na Existência de Deus
"Aqui, baseando-se em sua análise dos resultados prováveis do jogo de balla, Pascal formula a questão em termos de um jogo de azar. Ele postula um jogo que termina em uma distância infinita no tempo. Naquele momento, uma moeda é jogada. Em que lado você apostaria: cara (Deus existe) ou coroa (Deus não existe)?
Hacking afirma que a linha de análise de Pascal na resposta a esta pergunta é o início da teoria da tomada de decisões. “A teoria da decisão”, como Hacking a descreve, “é a teoria de decidir o que fazer quando é incerto o que acontecerá. ” Tomar tal decisão é o primeiro passo essencial em qualquer esforço de administração do risco.
Às vezes, tomamos decisões com base na experiência passada, de experiências que nós ou outros conduzimos no decorrer de nossas vidas. Mas não podemos conduzir experiências que provem a existência ou não de Deus. Nossa única alternativa é explorar as consequências futuras da crença em Deus ou da Sua rejeição. Tampouco podemos evitar a questão, pois o mero ato de viver força-nos a participar desse jogo.
Pascal explicou que a crença em Deus não é uma decisão. Você não pode acordar uma manhã e declarar: “Hoje acho que decidirei acreditar em Deus.” Você acredita ou não acredita. A decisão, portanto, é se você optará por agir de um modo que leve a acreditar em Deus, como viver entre pessoas devotas e seguir uma vida de “água benta e sacramentos”. Quem seguir esses preceitos estará apostando na existência de Deus. Os que não quiserem se dar a esse trabalho estarão apostando que Deus não existe."
(...)
"Caso Deus não exista, será indiferente se você levar uma vida devota ou pecaminosa. Mas suponha que Deus exista. Então, se você apostar contra a existência de Deus, recusando-se a viver uma vida de devoção e sacramentos, correrá o risco da danação eterna; o vencedor da aposta de que Deus existe tem a possibilidade da salvação. Como a salvação é claramente preferível à danaçâo eterna, a decisão correta é agir com base na existência de Deus. “Para que lado nos inclinaremos?” A resposta era óbvia a Pascal." P. 68-69

Cita o Livro de Pascal: La Logique, ou l'art de Penser (Lógica, ou a arte de pensar)
(...)
Entre outros assuntos, esses capítulos contém uma "regra para o uso apropriado da razão na determinação de quando aceitar a autoridade humana", regras para a interpretação de milagres, uma base de interpretação de eventos históricos e a aplicação de medições numéricas à probabilidade." P. 70

A Avaliação de Risco sobre Probabilidade e Impacto
"O medo do dano deveria ser proporcional, não apenas à gravidade do dano, mas também à probabilidade do evento." P. 70

"Pascal e Fermat detiveram a chave de um método sistemático de cálculo das probabilidades de eventos futuros. Embora não tivessem dado a volta completa, eles inseriram a chave na fechadura. A importância de seu trabalho pioneiro para a gestão empresarial, para a administração do risco e, em particular, para os seguros seria percebida por outros - para os quais a Lógica de Port-Royal seria um importante passo inicial." P. 71


Capítulo 5: As Noções Notáveis do Homem das Noções Notáveis

Sobre os Padrões de Amostragem
"Todos temos de tomar decisões com base em poucos dados. Um gole, ou mesmo o aroma, de um vinho já indica se a garrafa inteira é bebível. A corte à futura esposa é mais curta do que a vida em comum pela frente. Algumas gotas de sangue podem revelar padrões de ADN que condenarão ou absolverão um acusado de assassinato. As pesquisas de opinião entrevistam 2 mil pessoas para apurar o estao de espírito do país inteiro. O índice Dow-Jones nos Estados Unidos consiste em apenas trinta ações, mas o usamos para medir mudanças em trilhões de dólares no patrimônio de milhões de famílias e de milhares de grandes instituições financeiras. Foi preciso George Bush comer só um pouco de brócolos para saber que não gostava daquela verdura.

A maioria das grandes decisões seria inviável sem a amostragem. Quando você terminar de beber a garrafa de vinho, será tarde demais para dizer se ele é ou não bebível." P. 73 (Negrito por Daniel Brandt)

A Criação do Lloyd's e o Mercado Segurador
"Em 1771, quase cem anos depois de Edward Lloyd abrir seu café na Tower Street, 79 dos seguradores que negociavam no Lloyd’s subscreveram cem libras cada e se uniram na Society of Lloyd’s, um grupo de empresários individuais não constituídos em pessoa jurídica que operavam sob um código de conduta auto-regulamentado. Esses foram os Membros do Lloyd’s originais; mais tarde, os membros passaram a ser conhecidos como “Names”. Os Names empenhavam todos os seus bens terrenos e todo seu capital financeiro para cumprir a promessa de cobrir os prejuízos dos clientes. Esse empenho foi uma das principais razões do rápido crescimento dos negócios fechados na Lloyd’s no correr dos anos. Desse modo, a xícara de café de Canopius levou a0 estabelecimento da mais famosa empresa seguradora da história.
(...)

Na década de 1770, um setor segurador surgira também nas colônias norte-americanas, embora as apólices maiores continuassem sendo emitidas na Inglaterra. Benjamin Franklin fundara uma empresa de seguros contra incêndios chamada First American em 1752; o primeiro seguro de vida foi emitido pelo Presbyterian's Ministers' Fund, fundado em 1759." P. 91 (Negrito por Daniel Brandt)

Diversificação de Riscos
"Ao lado das formas financeiras de administração do risco, os mercadores aprenderam desde cedo a empregar a diversificação para diminuir os riscos. Antônio, o mercador de Veneza na peça de Shakespeare, seguiu essa prática:

Todas as minhas cargas não estão confiadas a um só navio, nem as dirijo para um só ponto; nem o total de meus bens está à mercê dos contratempos do presente ano. Não são, pois, minhas especulações que me fazem ficar triste. (Ato I, Cena 1)" p. 92




1700-1900: Medições Ilimitadas
Capítulo 6: Considerando a Natureza do Homem

"Em 1738, os Autos da Academia Imperial de Ciências de São Petesburgo publicaram um ensaio com este tema central: "o valor de um item não deve ser basear em seu preço, mas na utilidade que ele produz". (Negrito por Daniel Brandt)

Objetividade + Subjetividade = Decisão
"Ambos os autores basearam seus argumentos na proposição de que qualquer decisão relativa a riscos envolve dois elementos distintos, porém inseparáveis: os fatos objetivos e a visão subjetiva do desejo do que será ganho, ou perdido, com a decisão. Tanto a medição objetiva como os graus de crença subjetivos são essenciais; nenhum deles é suficiente isoladamente." P. 100

A Família Bernoulli
"O autor do artigo de São Petersburgo foi um matemático suíço chamado Daniel Bernoulli então com 38 anos. Embora o nome de Daniel Bernoulli só seja familiar para os cientistas, seu artigo é um dos documentos mais profundos já escritos, não apenas sobre o tema do risco, mas também sobre o comportamento humano. A ênfase de Bernoulli nas relações complexas entre medição e sentimento aborda quase todos os aspectos da vida.

Daniel Bernoulli pertencia a uma família notável. Do final do século XVII ao final do século XVIII, oito Bernoulli foram reconhecidos como matemáticos célebres. Esses homens geraram o que o historiador Eric Bell descreve como “um enxame de descendentes... a maioria dessa posteridade alcançando distinção - às vezes, chegando à eminência - no direito, no mundo acadêmico, na literatura, nas profissões eruditas, na administração e nas artes. Nenhum deles foi um fracasso.”" p. 100

"Foi nesse cenário que Bernoulli transformou o misticismo da Lógica de Port-Royal em um argumento lógico, voltado para tomadores de decisões racionais." P. 101

"Qual o valor esperado do arremesso de dois dados? Se somarmos os onze resultados possíveis: 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 + 10 + 11 + 12-, o total será 77. O valor esperado do arremesso de dois dados são 77/11, ou exatamente 7.

Contudo, esses onze números não têm a mesma probabilidade de surgir. Como demonstrou Cardano, com 36 combinações diferentes que produzem os onze resultados de 2 a 12, alguns resultados são mais prováveis do que outros; por exemplo, 2 só pode ser gerado pelo duplo um, mas 4 pode ser gerado de três formas: por 3 + 1, por 1 + 3 e por 2 + 2. A útil tabela de Cardano (página 51) lista o número de combinações em que cada um dos onze resultados pode ocorrer:
O valor esperado, ou a expectativa matemática, do arremesso de dois dados é exatamente 7, confirmando nosso cálculo de 77/11. Agora podemos entender por que uma sequência de sete jogadas desempenha um papel tão crucial no jogo de craps." P. 103


Percepção de Risco: Utilidade x Ganhos ou Chances x Consequências
"Por exemplo, Antoine Arnauld, o célebre autor da Lógica de PortRoyal, acusou as pessoas com medo de tempestades de superestimar a baixa probabilidade de serem atingidas por um raio. Ele estava errado. Era ele quem estava ignorando algo. Os fatos são os mesmos para todos, e mesmo aqueles que tremem ao primeiro soar do trovão sabem perfeitamente ser muito improvável um raio atingir exatamente onde estão. Bernoulli viu a situação com mais clareza: as pessoas com fobia de ser atingidas por um raio atribuem tamanho peso às consequências desse resultado que tremem mesmo sabendo que as chances de serem atingidas são mínimas.

O sentimento rege a medição. Pergunte aos passageiros de um avião durante uma turbulência se todos sentem o mesmo grau de ansiedade. A maioria das pessoas sabe perfeitamente que viajar de avião é muito mais seguro do que dirigir um automóvel, mas alguns passageiros darão trabalho às aeromoças, enquanto outros cochilarão tranquilamente em qualquer circunstância.

E isso é positivo. Se todos avaliassem cada risco exatamente da mesma forma, muitas oportunidades arriscadas seriam perdidas. Pessoas aventureiras atribuem grande utilidade à baixa probabilidade de ganhos imensos e baixa utilidade à probabilidade maior de perda.
(...)
Onde um vê tempo bom, o outro vê tormenta. Sem o aventureiro, o mundo progrediria bem mais lentamente. Pense em como seria a vida se todos tivessem fobia de raios, de voar de avião e de investir em empresas novas.
" P. 104-105

"Uma vez Bernoulli estabeleceu sua tese básica de que as pessoas atribuem ao risco valores diferentes, ele introduziu uma ideia central: "A utilidade resultante de qualquer pequeno aumento da riqueza será inversamente proporcional à quantidade de bens anteriormente possuídos." P. 105 (Negrito por Daniel Brandt)


"A hipótese de que a utilidade está inversamente relacionada à quantidade de bens anteriormente possuídos é um dos grandes saltos intelectuais na história das idéias." P. 105 (Negrito por Daniel Brandt)

"Mas ele vai ainda mais longe, ele sugere uma abordagem sistemática para se determinar quanto a mais ou a menos cada indivíduo deseja...
(...)
Pela primeira vez na história, Bernoulli está aplicando a medição a algo que não pode ser contado. Ele agiu como intermediário no casamento da intuição com a medição.
(...)
Bernoulli estabeleceu a base intelectual de muito do que se seguiria, não apenas em economia, mas em teorias sobre como as pessoas tomam decisões e fazem escolhas em todos os aspectos da vida." P. 105 (Negrito por Daniel Brandt)


"Para Bernoulli, os jogos de azar e os problemas abstratos não passavam de ferramentas para formular sua tese principal do desejo de riqueza e oportunidade. Sua ênfase estava na tomada de decisões, e não nos meandros matemáticos da teoria das probabilidades. Ele anuncia de saída que seu objetivo é estabelecer "regras pelas quais qualquer um poderia estimar suas perspectivas em qualquer empreendimento arriscado à luz de suas circunstâncias financeiras específicas”. Essas palavras vêm a calhar para todo economista financeiro, gerente de empresa e investidor contemporâneos. O risco deixou de ser algo por enfrentar; ele se tornou um conjunto de oportunidades abertas à opção." P. 109

"Por mais moderno que pareça Bernoulli, ele foi um homem típico de seu tempo. Seu conceito de racionalidade humana enquadrava-se perfeitamente no ambiente intelectual do Iluminismo. Essa foi uma época em que escritores, artistas, compositores e filósofos políticos abraçaram as idéias clássicas de ordem e forma e insistiram que, pelo acúmulo de conhecimentos, a humanidade conseguiria penetrar nos mistérios da vida." P. 110

"Segundo Bernoulli, nossas decisões têm uma estrutura previsível e sistemática. Em um mundo racional, todos prefeririam ser ricos a ser pobres, mas a intensidade do desejo de se tornar mais rico é temperada por quão ricos nós já somos." P. 111 (Negrito por Daniel Brandt)

Capítulo 7: A Busca da Certeza Moral
"a conjectura é o processo de estimar o todo a partir das partes." P. 117

"Conforme a citação de Fischer Black na Introdução, o mundo parece bem mais organizado visto dos recintos do MIT, junto ao rio Charles, do que do tumulto de Wall Street, às margens do Hudson." P. 118

"Apenas em raros casos a vida imita os jogos de azar, em que podemos determinar as probabilidades de um resultado antes que um evento chegue a ocorrer" p. 119

de Moivre: O risco como a chance de perda
"O risco de perder qualquer soma é o inverso da expectativa; e sua verdadeira medida é o produto da Soma arriscada pela Probabilidade de Perda." P. 125 (Negrito por Daniel Brandt)


Capítulo 8: A Lei Suprema da Irracionalidade
"Dada sua admiração pelas descobertas de Newton, ficava furioso com qualquer referência à história de que Newton fora inspirado pela queda de uma maçã na sua cabeça a descobrir a lei da gravidade. Gauss descreveu essa fábula como:

Boba! Um homem estúpido e intrometido perguntou a Newton como ele descobrira a lei da gravitação. Vendo que teria de lidar com um intelecto de criança, e querendo se ver livre do chato, Newton respondeu que uma maçã caíra sobre seu nariz. O homem foi embora plenamente satisfeito e completamente esclarecido." P. 136

"A ordem só conseguirá ser achada se existir desordem primeiro." P. 139


Capítulo 9: O Homem com o Cérebro Torcido
"Francis Galton (1822-1911) (...) era primo em primeiro grau de Charles Darwin." P. 151

"O estudo de Quetelet das causas e efeitos constitui uma leitura fascinante." P. 159

"Após ler Hereditary genius, Charles Darwin disse a Galton: “Acho que nunca na vida li algo mais interessante e original... uma obra memorável.” Darwin sugeriu-lhe continuar sua análise da estatística da hereditariedade, mas Galton não precisava ser encorajado. Ele estava agora a caminho de desenvolver a ciência da eugenia e ávido por descobrir e preservar o que considerava a nata da humanidade. Ele queria que as melhores pessoas tivessem mais descendentes e que as piores exercessem a contenção." P. 163 (Negrito por Daniel Brandt)

Capítulo 10: Ervilhas e Riscos

...

Capítulo 11: A Estrutura da Felicidade
...


1900 - 1960: Nuvens de Incerteza e a Exigência de Precisão
Capítulo 12: A Medida de Nossa Ignorância

"A essência da administração do risco está em maximizar as áreas onde temos certo controle sobre o resultado, enquanto minimizamos as áreas onde não temos absolutamente nenhum controle sobre o resultado e onde o vínculo entre efeito e causa está oculto de nós." P. 197 (Negrito por Daniel Brandt)

"o acaso para o ignorante não é o acaso para o cientista. O acaso é apenas a medida de nossa ignorância" Jules-Henri Poincaré (p. 200)

... explicou Poincaré...
"Muitas pessoas acham bastante natural rezar por chuva ou por sol, embora achem ridículo rezar por um eclipse... Um décimo de grau em qualquer ponto, e o ciclone irrompe aqui, e não alí, espalhando a destruição sobre países que teria poupado. Poderíamos ter previsto isso se conhecêssemos aquele décimo de grau, mas... tudo parece dever-se à atividade do acaso." P. 201

A Certeza Moral vs. A Certeza Real
"Jacob Bernoulli insistiu que a certeza moral é inferior a certeza." P. 207

"A atual convenção no mundo das finanças é que deveríamos ter 95% de certeza de que algo é "estatisticamente importante" (o equivalente moderno à certeza moral) para aceitar o que os números indicam." P. 209

Capítulo 13: A Noção Radicalmente Distinta

Cita Keynes com a obra: The General Theory of Employment, Interest and Money

Cita Frank Knight com a obra (dissertação de doutorado): Risk, uncertainty and profit

Frank Knight distingue risco de incerteza:
"A incerteza deve ser tomada em um sentido radicalmente distinto da noção familiar de risco, da qual nunca foi apropriadamente separada... Descobrir-se-á que uma incerteza mensurável, ou “risco” propriamente... é tão diferente de uma imensurável que, na verdade, não chega a ser uma incerteza." P. 219

"A extrapolação de frequências passadas é o método favorito para se chegar a julgamentos sobre o que jaz à frente. A capacidade de extrapolar a partir da experiência é o que distingue os adultos das crianças. Pessoas experientes vieram a reconhecer que a inflação está, de algum modo, associada a altas taxas de juros, que qualidades morais são desejáveis na escolha de um parceiro de pôquer ou da pessoa com quem nos casamos, que céu nublado costuma pressagiar mau tempo e que dirigir em alta velocidade nas ruas da cidade é perigoso.
Os dirigentes de empresas regularmente extrapolam do passado para o futuro, mas com frequência deixam de reconhecer quando as condições estão começando a mudar de mal para melhor ou de melhor para pior. Eles tendem a identificar, momentos críticos somente depois de ocorrido o fato. Se eles fossem melhores em detectar mudanças iminentes, as mudanças abruptas de rentabilidade tão comuns jamais ocorreriam. A predominância da surpresa no mundo dos negócios indica que a incerteza tende mais a prevalecer do que a probabilidade matemática." P. 220 (Negrito por Daniel Brandt)

Fato Curioso sobre Keynes
"Em 1936, Keynes transformara uma modesta herança em uma fortuna pessoal equivalente a 10 milhões de libras em moeda atual." P. 224

Cita o livro de Keynes: A Treatise on Probability.

"Keynes não via sentido em uma economia hipotética em que passado, presente e futuro estão unificados por uma máquina do tempo impessoal em um único momento." P. 227

"Keynes argumentou que os juros são uma recompensa pela renúncia à liquidez, e não pela abstenção do consumo." P. 227 (Negrito por Daniel Brandt)


Capítulo 14: O Homem que Contava Tudo, Exceto Calorias

Cita o livro de Morgenstern e Von Neumann: Theory of Games and Economic Behavior


Capítulo 15: O Estranho Caso do Corretor Anônimo


Cita o juiz Samuel Putnam... em que fala da Regra do Homem Prudente:
"Faça você o que fizer, o capital corre risco... Tudo que se pode exigir de um administrador de fundo fiduciário ao investir é que ele seja leal e criterioso. Ele deve observar como homens prudentes, críteríosos e inteligentes gerenciam seus próprios negócios, não no tocante à especulação, mas à disposição permanente de seus fundos, considerando a renda provável, bem como a segurança provável do capital a ser investido."

Cita o artigo de Harry Markowitz "Portfolio Selection" publicado em junho de 1952 no Journal of Finance.

"O reitor recomendou que Markowitz lesse The Theory of Investment Value (A teoria do valor dos investimentos), de John Burr Williams, um livro influente sobre finanças e a administração de empresas." P. 250 (Negrito por Daniel Brandt)

"John Hartwell, da Hartwell & Campbell Growth Fund ("Desempenho significa buscar resultados superiores à média em períodos de tempo razoavelmente longos - sistematicamente")." P. 251

"Como observara Poincaré, o comportamento de um sistema que consiste em apenas poucas peças com forte interação será imprevisível. Com tal sistema, você pode fazer uma fortuna ou perder tudo em uma só aposta grande." P. 252

"As carteiras eficientes minimizam aquela "coisa indesejável" chamada variância ao mesmo tempo em que maximizam aquela "coisa desejável" chamada enriquecer." P. 256


Sobre a Racionalidade das Pessoas
"Existe outra possibilidade. Talvez as pessoas não sejam irracionais, mas o modelo tradicional de racionalidade especifique um padrão de comportamento que capta apenas em parte a forma como os seres humanos racionais tomam suas decisões. Nesse caso, o problema está no modelo de racionalidade, e não nos seres humanos. Se as escolhas das pessoas forem lógicas e previsíveis, mesmo com preferências variáveis, e não constantes, ou com preferências que não se ajustam às prescrições rigorosas da racionalidade, o comportamento poderá ser modelado por técnicas matemáticas. A lógica poderá seguir uma variedade de caminhos, além daqueles especificados no modelo tradicional.
Um volume crescente de pesquisas revela que as pessoas são vítimas de incoerências, falta de visão e outras formas de distorção no decorrer do processo de tomada de decisões. Isso pode ser irrelevante quando está em jogo a sorte grande na máquina caça-níquel ou na loteria. Mas as evidências indicam que essas falhas são ainda mais aparentes em áreas onde as consequências são mais graves.

A palavra "irracional" talvez seja forte demais para se aplicar a tal comportamento, pois irracionalidade conota loucura e a maioria das pessoas não é louca (talvez por definição?). Richard Thaler, um economista da Universidade de Chicago observou que as pessoas não são “consumados idiotas" nem “autômatos hiper-racionais”." P. 265 (Negrito por Daniel Brandt)


Graus de Crença: Explorando a Incerteza
Capítulo 16: A Falta de Invariância

"A Teoria da Perspectiva descobriu padrões de comportamento nunca antes reconhecidos pelos proponentes da tomada racional de decisões. Kahneman e Tversky atribuem esses padrões a duas deficiências humanas. Primeira, a emoção muitas vezes destrói o autocontrole que é essencial à tomada racional de decisões. Segunda, as pessoas muitas vezes não conseguem entender plenamente com que estão lidando. Elas experimentam o que os psicólogos denominam dificuldades cognitivas.
O núcleo de nossa dificuldade está na amostragem. Como Leibniz lembrou a Jacob Bernoulli, a natureza é tão variada e complexa que temos dificuldades em extrair generalizações válidas do que observamos. Usamos atalhos que nos levam a percepções errôneas ou interpretamos amostras pequenas como representativas do que amostras maiores revelariam.
Consequentemente, tendemos a recorrer a tipos mais subjetivos de medição: os "graus de crença" de Keynes figuram com mais frequência em nossa tomada de decisões do que o Triângulo de Pascal, e a intuição domina mesmo quando pensamos que estamos usando a medição. Sete milhões de pessoas e um elefante!
Exibimos aversão ao risco quando nos oferecem uma opção em um cenário e, depois, procuramos o risco quando nos oferecem a mesma opção em outro cenário diferente. Tendemos a ignorar os componentes comuns de um problema e concentramo-nos em cada parte isoladamente - uma razão pela qual a prescrição de Markowitz para a formação de carteiras custou a ser aceita. Temos dificuldade em reconhecer quanta informação é suficiente e quanta é excessiva. Damos atenção demais a eventos de baixa probabilidade, mas altamente dramatizados, e negligenciamos eventos de ocorrência rotineira. Tratamos diferentemente os custos e os prejuízos não-ressarcídos, embora tenham o mesmo impacto sobre a riqueza. Começamos com uma decisão puramente racional de como administrar nossos riscos e, depois, extrapolamos do que pode não passar de um golpe de sorte. Como resultado, esquecemos a regressão à média, aferramo-nos às nossas posições e acabamos em apuros.
Eis uma pergunta usada por Kahneman e Tversky para mosrrar como as percepções intuitivas nos enganam: a letra K aparece com mais frequência como inicial ou como terceira letra nas palavras inglesas? Você talvez responderá que ela aparece mais frequentemente como inicial. Na verdade, K aparece duas vezes mais amiúde como terceira letra. Por que o erro? Temos mais facilidade em recordar palavras com certa letra inicial do que palavras com a mesma letra em outra posição." P. 271-272

Teoria da Perspectiva
"Onde somas vultosas estão envolvidas, a maioria das pessoas rejeitará uma aposta equilibrada a favor de um ganho certo - $100 mil certos são preferíveis a uma possibilidade de 50-50 de $200 mil ou nada. Somos avessos ao risco, em outras palavras."
"Mas e quanto às perdas? O primeiro artigo de Kahneman e Tversky sobre a Teoria da Perspectiva, surgido em 1979, descreve uma experiência que mostra que nossas escolhas entre resultados negativos são imagens invertidas de nossas escolhas entre resultados positivos! Em uma de suas experiências, eles primeiro pediram aos participantes que escolhessem entre 80% de chances de ganhar $4 mil e 20% de nada ganhar ou 100% de chances de receber $3 mil. Embora a expectativa matemática da opção arriscada fosse maior - $3,2 mil -, 80% dos participantes escolheram $3 mil certos. Essas pessoas eram avessas ao risco, exatamente como Bernoulli teria previsto.

Depois, Kahneman e Tversky ofereceram uma escolha entre correr o risco de 80% de chances de perder $4 mil e 20% de chances de não sofrer prejuízo ou 100% de chances de perder $3 mil. Agora, 92% dos entrevistados escolheram a aposta, embora sua expectativa matemática de uma perda de $3,2 mil superasse novamente a perda certa de $3 mil. Quando a escolha envolve perdas, somos favoráveis, e não avessos, ao risco." P. 272-273

Caso 1
"Kahneman e Tversky e muitos de seus colegas descobriram que esse padrão assimétrico aparece sistematicamente em uma ampla variedade de experiências. Em uma ocasião posterior, por exemplo, Kahneman e Tversky propuseram o seguinte problema. Imagine que uma doença rara irrompeu em certa comunidade e que deverá matar 600 pessoas. Dois diferentes programas estão disponíveis para o combate à ameaça. Se o programa A for adotado, 200 pessoas serão salvas; se o programa B for adotado, existe 33% de probabilidade de que todos serão salvos e 67% de probabilidades de que ninguém será salvo.
Que programa você escolheria? Se a maioria de nós for avessa ao risco, as pessoas racionais preferiria a certeza do Plano A de salvar 200 vidas à aposta do Plano B, que tem a mesma expectativa matemática, mas envolve assumir o risco de 67% de chance de que todos morrerão. Na experiência, 72% dos indagados escolheram a resposta avessa ao risco representada pelo Programa A." P. 273

Caso 2
"Agora, consideremos o mesmo problema com outra formulação. Se o Programa C for adotado, 400 das 600 pessoas morrerão, enquanto o Programa D oferece 33% de probabilidade de que ninguém morrerá e 67% de probabilidade de que 600 pessoas morrerão. Observe que a primeira alternativa está agora expressa em termos de 400 mortes, em vez de 200 sobreviventes, enquanto o segundo programa oferece 33% de chance de que ninguém morrerá. Kahneman e Tversky relatam que 78% dos entrevistados preferiram o risco, optando pela aposta: eles não puderam tolerar a perspectiva da perda certa de 400 vidas." P. 273

"Esse comportamento, embora compreensível, é incompatível com os pressupostos de conduta racional. A resposta a uma pergunta deveria ser a mesma, independentemente do cenário em que foi formulada. Kahneman e Tversky interpretam as evidências produzidas por essas experiências como demonstração de que as pessoas não são avessas ao risco: elas estão perfeitamente dispostas a escolher uma aposta quando julgam apropriado. Mas se elas não são avessas ao risco, o que são? “A principal força propulsora é a aversão à perda”, escreve Tversky (o grifo é meu). “Não se trata tanto de que as pessoas odeiam a incerteza mas, pelo contrário, de que odeiam perder." As perdas sempre parecerão maiores que os ganhos." P. 273-274 (Negrito por Daniel Brandt)

"Provavelmente, a característica mais significativa e dominante da máquina de prazer humana é o fato de que as pessoas são muito mais sensíveis a estímulos negativos do que positivos... Pense sobre quão bem você se sente hoje e, depois, tente imaginar quão melhor você poderia se sentir... Existem algumas coisas que o fariam sentir-se melhor, mas o número de coisas que o fariam sentir-se pior é ilimitado." P. 274 (Negrito por Daniel Brandt)


"Ele cita uma pesquisa em que se pediu aos entrevistados que escolhessem entre uma política de alto nível de emprego e inflação elevada ou uma política de nível de emprego e inflação menores. Quando a questão foi formulada em termos de taxas de desemprego de 10% ou 5%, os votos foram fortemente favoráveis a uma inflação maior para diminuir a taxa de desemprego. Quando se pediu aos entrevistados que escolhessem entre uma força de trabalho 90% empregada e uma força de trabalho 95% empregada, uma inflação reduzida pareceu mais importante do que aumentar o nível de emprego em cinco pontos percentuais." P. 274

Caso 3
"Richard Thaler descreveu uma experiência que usa a riqueza inicial para ilustrar a advertência de Tversky.Thaler propôs a uma turma de alunos que eles tinham acabado de ganhar $30 e podiam fazer a seguinte opção: um arremesso de moeda em que o indivíduo ganha $2 com cara e perde $9 com coroa ou abster-se de jogar. Setenta por cento dos alunos escolheram o arremesso de moeda. Thaler ofereceu à próxima turma esta opção: riqueza inicial zero e um arremesso de moeda em que o indivíduo ganha $39 com cara e ganha $21 com coroa versus $30 certos. Somente 43% optaram pelo arremesso da moeda." P. 275

Edward Miller descreve...
"Grandes ganhos ocasionais parecem sustentar o interesse de investidores e jogadores por períodos de tempo maiores do que pequenos ganhos regulares." P. 275 (Negrito por Daniel Brandt)

"A invariância é normativamente essencial (o que deveríamos fazer), intuitivamente irresistível e psicologicamente inviável." P. 276

"os investidores detestam sofrer prejuízos, pois, considerações fiscais à parte, um prejuízo sofrido é um reconhecimento de erro." P. 276 (Negrito por Daniel Brandt)

"Kahneman e Tversky pedem-lhe que imagine estar a caminho para assistir a uma peça na Broadway para a qual você comprou um ingresso de $40. Ao chegar no teatro, você descobre que perdeu o ingresso. Você gastaria $40 com outro?

Agora, suponha, em vez disso, que você pretende comprar o ingresso ao chegar no teatro. Ao se aproximar da bilheteria, você descobre que tem no bolso $40 a menos do que pensou que tivesse ao sair de casa. Mesmo assim, você compraria um ingresso?

Em ambos os casos, quer você tenha perdido o ingresso ou $40, você seria privado de um total de $80 se decidisse assistir à peça. Você seria privado de apenas $40 se desistisse da peça e voltasse para casa. Kahneman e Tversky descobriram que a maioria das pessoas relutaria em gastar $40 para substituir um ingresso perdido, embora cerca do mesmo número estaria perfeitamente disposto a despender outros $40 no ingresso, ainda que tivesse perdido os $40 originais." P. 277

"Thales conta um divertido exemplo da vida real de contabilidade mental. Um professor de finanças conhecido dele tem uma estratégia sagaz para se conformar com os pequenos infortúnios. No início do ano, o professor planeja uma doação generosa para sua instituição de caridade favorita. Todos os contratempos ocorridos durante o ano - um ingresso extraviado, a reposição de um objeto perdido, um pedido indesejado por um parente em dificuldades - são, então, debitados da conta de caridade." P. 277

"Em sua pesquisa com Tversky, ele descobrira que uma perda que não passa de um acréscimo a uma perda maior é menos dolorosa do que uma perda isolada: perder outros $100 após já ter perdido $100 é menos doloroso do que perder $100 em ocasiões totalmente separadas. Tendo em mente esse conceito ao se mudar para uma casa nova, Kahneman e sua esposa compraram toda a mobília uma semana após terem comprado a casa. Se tivessem considerado a mobília como uma conta separada, poderiam ter hesitado diante do custo e comprado menos peças do que precisavam." P. 278

"Tversky acredita que os "julgamentos probabilísticos não estão ligados aos eventos, mas às descrições dos eventos... a probabilidade atribuída a um evento depende da clareza de sua descrição."" P. 279

"Aparentemente, quanto maior o número de possibilidades, maiores as probabilidades atribuídas a elas." P. 280

Daniel Ellsberg...e a aversão à ambiguidade:
"Aversão à ambiguidade significa que as pessoas preferem assumir riscos com base em probabilidades conhecidas, em vez de desconhecidas. Em outras palavras, a informação importa." P. 280

Caso 6
"Ellsberg ofereceu a vários grupos de pessoas uma chance de apostar no sorteio de uma bola vermelha ou preta de duas urnas diferentes, cada uma com cem bolas. A Urna 1 continha 50 bolas de cada cor; a composição da Urna 2 era desconhecida. Segundo a teoria das probabilidades, a Urna 2 também estaria dividida em 50-50, pois não havia nenhuma base para qualquer outra distribuição. Contudo, a maioria esmagadora dos respondentes preferiu apostar no sorteio da Urna 1." P. 280

"as pessoas apostarão em crenças vagas em situações onde se sintam especialmente competentes ou bem informadas, mas preferirão apostar segundo as chances em caso contrário.
(...)
As pessoas que sabem jogar dardos, por exemplo, prefeririam uma partida de dardos aos jogos de azar, embora a probabilidade de sucesso de dardos seja vaga, enquanto a probabilidade de sucesso nos jogos de azar seja matematicamente predeterminada." P. 281

"Thaler acrescenta: "A semi-racionalidade não é fatal nem imediatamente autoderrotadora." P. 282

"Thaler faz a mesma afirmação em outro contexto. Se fossemos sempre racionais na tomada de decisões, não precisaríamos dos mecanismos elaborados que empregamos para respaldar nosso autocontrole - dos spas para dietas de emagrecimento e da retenção do imposto de renda na fonte a, no outro extremo, apostar alguns trocados nos cavalos, mas não a ponto de precisarmos contrair uma segunda hipoteca. Aceitamos a perda certa que sofremos ao adquirir um seguro, o que é um reconhecimento explícito da incerteza. Empregamos esses mecanismos, e eles funcionam. Poucas pessoas acabam no asilo de indigentes ou no hospício como resultado de sua própria tomada de decisões." P. 282

"Com tantas dessas evidências danosas geradas nos laboratórios de psicologia, em experiências com estudantes jovens, em situações hipotéticas onde as penalidades pelos erros são mínimas, que confiança podemos ter de que as descobertas são realistas, confiáveis ou relevantes à forma como as pessoas se comportam quando têm de tomar decisões?" P. 282

"Se as pessoas são tão estúpidas, por que tão poucos de nós, os espertos, enriquecemos?" P. 283

Capítulo 17: A Polícia da Teoria

"Daniel Kahneman: "A falha do modelo racional não está em sua lógica, mas no cérebro humano que ele requer. Quem conseguiria projetar um cérebro capaz de agir segundo as prescrições desse modelo? Cada um de nós teria de conhecer e compreender tudo, completamente e de uma só vez." P. 285 (Negrito por Daniel Brandt)

"Se os investidores têm uma tendência a violar o modelo racional, esse modelo talvez não seja uma descrição muito confiável do comportamento dos mercados de capitais. Nesse caso, novas medidas do risco dos investimentos se justificariam." P. 286

"O psicólogo David Bell observou que o “arrependimento por uma decisão” resulta de enfocar os ativos que você poderia ter tido se tomasse a decisão correta? Bell cita a escolha entre uma loteria que paga $10 mil se você ganhar e nada se você perder versus $4 mil certos. Se você optar por jogar na loteria e perder, você dirá que foi ganancioso e que foi punido pelo destino, mas depois retomará sua vida normal. Mas suponha que você escolha os $4 mil certos, a opção mais conservadora, e depois descubra que teria ganho os $10 mil na loteria. Quanto você daria para nunca saber este resultado?" P. 286

"Embora todos saibam ser impossível escolher apenas as melhores ações, muitos investidores arrependem-se por não as ter comprado. Acredito que esse tipo de insegurança emocional explique muito mais as decisões de diversificar do que todas as perorações intelectuais mais elegantes de Harry Markowitz sobre o assunto - quanto mais ações você tiver, maiores as chances de possuir as campeãs!" P. 286

"Se você comprar ações tradicionais como as da Coca-Cola, quase não arriscará sua carreira, pois os clientes culparão o idiota do mercado se as coisas não derem certo." P. 288 (Negrito por Daniel Brandt)

"Meir Statman, professor de quase cinquenta anos da Universidade de Santa Clara, descreve as finanças comportamentais "não como um ramo das finanças comuns: é sua substituição por um modelo melhor da humanidade" p. 289

Cita Richard Thaler em sua dissertação doutoral: "Seu tema era o valor de uma vida humana, e ele estava tentando provar que a medida certa desse valor é a quantia que as pessoas estariam dispostas a pagar para salvar uma vida." P. 289

"An Economic Theory of Self-Control" ("Uma teoria econômica do autocontrole"), que Shefrin escrevera com Thaler. O artigo defendia a tese de que as pessoas que têm dificuldades em exercer o autocontrole limitam deliberadamente suas opções. As pessoas com problema de peso, por exemplo, evitam ter um bolo ao alcance." P. 290

Cita "Merton Miller, um ganhador do prêmio Nobel, membro da Universidade de Chicago e um dos mais formidáveis defensores da teoria racional." P. 293

"Lakonishok, Shleifer e Vishny certamente se convenceram. Em 1995, eles abriram sua própria empresa para gerir dinheiro de acordo com seu próprio modelo divergente." P. 294


Capítulo 18: O Sistema Fantástico de Apostas Laterais

...

Capítulo 19: À Espera da Turbulência

"Ecoando Leibniz, G. K. Chesterton, um romancista e ensaísta, em vez de cientista, descreveu a visão moderna nestes tempos:
"O verdadeiro problema deste nosso mundo não é que seja irracional, nem mesmo que seja racional. O principal tipo de problema é que é quase racional, mas não totalmente. A vida não é uma ilogicidade; contudo, ela é uma armadilha para os lógicos. Ela parece um pouco mais matemática e regular do que é; sua exatidão é óbvia; mas sua inexatidão está oculta; sua turbulência jaz à espera." P. 333

Sobre a Teoria do Caos
"Trata-se de um mundo em que os desvios da norma não se distribuem simetricamente em ambos os lados da média, como prevê a distribuição normal de Gauss. Trata-se de um mundo irregular em que a regressão à média de Galton não faz sentido, porque a média está em um constante estado de fluxo. A ideia de uma norma não existe na teoria do caos." P. 334 (Negrito por Daniel Brandt)

"A semelhança com a verdade não equivale à verdade. Sem nenhuma estrutura teórica para explicar por que os padrões parecem se repetir através do tempo e dos sistemas, essas inovações oferecem poucas garantias de que os sinais de hoje desencadearão os eventos de amanhã." P. 336 (Negrito por Daniel Brandt)

"O passado raramente nos revela quando irromperá a turbulência no futuro. Guerras, depressões, altas e quedas acentuadas do mercado de ações e massacres étnicos se sucedem, mas sempre parecem chegar como surpresas. Entretanto, após o fato, quando estudamos a história do que ocorreu, a fonte da turbulência parece tão óbvia que não compreendemos como as pessoas presentes ignoraram o que as aguardava." P. 336 (Negrito por Daniel Brandt)
 

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